terça-feira, 8 de outubro de 2013

Guerra do Pacífico


        A Guerra do Pacífico foi um conflito ocorrido entre 1879 e 1883, confrontando o Chile às forças conjuntas da Bolívia e do Peru. Ao final da guerra, o Chile anexou ricas áreas em recursos naturais de ambos os países derrotados. O Peru perdeu a província de Tarapacá e a Bolívia teve de ceder a província de Antofagasta, ficando sem saída soberana para o mar, o que se tornou uma área de fricção na América do Sul, chegando até os dias atuais, e que é para a Bolívia uma questão nacional (a recuperação do acesso ao oceano Pacífico consta como um objetivo nacional boliviano em sua atual constituição). 
       O cenário era amplamente desfavorável para as forças aliadas: a Bolívia, depois de uma série de governos transitórios, estava claramente despreparada, além de lhe carecer uma marinha de guerra; o Peru se via diante dum colapso econômico que deixara sua marinha e exército também despreparados. A maioria dos navios de guerra peruanos estava velha e precisando de reparos urgentes. Os únicos encouraçados disponíveis eram o Huáscar e o Independencia. O Chile, ao contrário, dispunha de uma marinha de guerra moderna e de forças de combate preparadas para o conflito. Numa guerra que se desenrolava em pleno deserto, o controle do mar seria importantíssimo. A Batalha de Topáter, ocorrida em 23 de março de 1879, foi a primeira contenda da guerra. 554 soldados chilenos mais a cavalaria marcharam rumo a Calama, encontrando a resistência boliviana, composta de 135 soldados e civis residentes na área, liderados por Ladislao Cabrera, entrincheirados em pontes destruídas. Pedidos de rendição não surtiram efeito, e a batalha teve início. Parte dos bolivianos bateu em retirada, exceto por alguns civis, que liderados pelo coronel Eduardo Avaroa, lutaram até o fim. Demais batalhas em solo só ocorreram depois que o conflito no mar se resolveu. 

Termos de paz:
         Sob os termos do Tratado de Ancón, o Chile ocupou as províncias de Tacna e Arica por dez anos, onde depois do tempo estipulado seria realizado um plebiscito que decidiria a nacionalidade da região. Os dois países nunca concordaram com os termos do plebiscito. Finalmente, em 1929, sob o intermédio do presidente estadunidense Herbert Hoover, um acordo foi feito no qual o Chile ficou com Arica; O Peru readquiriu Tacna e recebeu $6 milhões em indenizações. 
         Em 1884, a Bolívia assinou uma trégua que deu total controle da costa pacífica ao Chile, com suas valiosas reservas de cobre e nitratos. Um tratado de 1904 tornou este arranjo permanente. Em retorno, o Chile concordou em construir uma ferrovia ligando La Paz, capital boliviana, ao porto de Arica, garantindo liberdade de trânsito ao comércio boliviano pelos portos chilenos. 

Consequências de longo prazo: 
       A Guerra do Pacífico deixou cicatrizes traumáticas nas sociedades boliviana e peruana. Para os bolivianos, a perda de um acesso soberano ao oceano Pacífico ainda é um assunto delicado, evidente durante os tumultos internos de 2004 acerca da nacionalização das reservas de gás e na eleição de Evo Morales para a presidência da república em 2005. 
          Muitos dos problemas do país ainda são atribuídos à falta de um acesso ao mar. Em 1932, este foi um fator determinante para a Guerra do Chaco, contra o Paraguai, sobre territórios que davam acesso ao rio Paraguai e, por conseqüência, ao oceano Atlântico. Nas últimas décadas, todos os presidentes bolivianos têm feito de plataforma política pressionar o Chile por um acesso soberano ao mar. Este acesso inclusive consta como objetivo nacional da Bolívia em sua constituição, tornado-se numa área de fricção da América do Sul. Em 1976, o Chile fez uma proposta para a Bolívia cedendo-lhe um acesso ao oceano Pacífico em troca de uma área boliviana de 5.000 km² próximo à lagoa Colorada que forneceria água em abundância para a indústrias de cobre chilena. Porém, o Peru interveio nas negociações e o acordo não deu certo. O principal jornal boliviano, El Diario , ainda dedica uma nota editorial por semana ao assunto. Na atualidade, o presidente Evo Morales pretende retomar as negociações com o Chile pela via diplomática.
        Os peruanos desenvolveram um culto aos heróicos defensores da pátria, como o almirante Miguel Grau, o coronel Francisco Bolognesi, ambos mortos em batalha, e o general Andrés Cáceres, que se tornou um figura política de destaque, depois de encerrado o conflito. A derrota engendrou uma forte vontade de vingança entre as classes dominantes, levando ao fortalecimento das forças armadas durante todo o século XX. 
         O Chile se deu melhor, anexando um lucrativo território com imensas reservas de cobre e nitratos. Mas a vitória também deixou um gosto amargo. Durante a guerra, o Chile desistiu de suas reivindicações sobre a Patagônia para assegurar a neutralidade da Argentina. Muitos vêem nisso uma grande perda de território. Após a guerra, o controle britânico sobre a economia do país cresceu, aumentando a interferência do Reino Unido na política chilena. Os lucros dos nitratos duraram apenas algumas décadas e caíram significativamente depois da Primeira Guerra Mundial. Atualmente, a região ainda é rica em cobre e seus portos movimentam cargas de vários países da região.

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